Pouco antes das primeiras chuvas de 2023 e em plena campanha para as eleições legislativas previstas para junho, a estrada entre Bissau e Gabu está mais movimentada do que nunca. No caminho, à medida que nos aproximamos daquela que é a região continental mais afastada da capital do país, encontramos agricultores a trabalhar nos campos de arroz, vendedoras com as suas bancas nos mercados das diferentes cidades e aldeias, mercadorias e pessoas a circular em todas as direcções e muitos carros a anunciar as promessas dos diferentes partidos políticos.
Gabu é um turbilhão de gente, com o mercado em plena actividade. Numa das suas ruas mais calmas, o restaurante de Sarita Paulo Alvarenga é um refúgio de paz no meio da azáfama matinal da cidade. “Aos fins-de-semana é mais calmo”, diz Sarita, “mas durante a semana vem cá muita gente”. Ela é originária da região vizinha de Bafatá, mas veio para Gabu há quatro anos para perseguir a sua paixão pela cozinha e o seu sonho de ter o seu próprio negócio. “Costumava trabalhar como cozinheira numa organização pública em Bafatá, mas saí para vir trabalhar com o meu patrão. As coisas não correram muito bem e decidi abrir o meu próprio espaço”.
Há alguns meses, o projecto “LIFE 3×6: Fundo de Inovação Local para o Empreendedorismo”, que a ONG ENGIM está a implementar nas regiões de Cacheu, Bafatá, Gabu e Bolama-Bijagós com o apoio do PNUD, cruzou o caminho de Sarita para mudar a sua vida “a 100%”, diz orgulhosa. “Aprendi muitas coisas que me vão ajudar a melhorar o meu negócio e consegui financiamento para melhorar o espaço e comprar materiais de que precisava mas que não podia pagar”. Tene Baldé é o braço direito de Sarita na cozinha há três anos. Nas suas constantes idas e vindas para tratar dos fogões e servir as mesas, ela corrobora as palavras da sua companheira. “Este projecto mudou tudo para nós, agora podemos trabalhar muito melhor”. Um sistema de produção de electricidade a partir de energia solar e um congelador ajudarão a melhorar a qualidade do serviço oferecido por Sarita e pela sua equipa.
Todos os dias, Sarita cozinha e serve 15 quilos de comida para alimentar uma média de 50 pessoas. Para além de Tene, trabalham com ela outros quatro jovens. “Antes do projecto, conseguia empregar três pessoas e agora tive de contratar mais duas”, explica com satisfação, “e o objectivo é continuar a crescer para poder empregar mais pessoas”. De acordo com Alfredo Sobrinho Malú, supervisor local do projecto na região de Gabu, “o projecto ajuda muito porque as pessoas enfrentam muitas dificuldades aqui. Trabalhamos principalmente com mulheres, jovens e pessoas que são alfabetizadas mas não têm necessariamente um nível de educação elevado”.
Das 289 pessoas que se candidataram a participar na iniciativa ENGIM, algumas eram residentes em Bissau que viram no projecto uma oportunidade de melhorar as suas condições de vida noutro local, o que torna as coisas um pouco mais complicadas para a população local. “Temos privilegiado propostas de pessoas que vivem nas regiões com as suas ideias de negócio aqui, de modo a contribuir para o seu desenvolvimento socioeconómico”, explica Malú. 120 pessoas participaram na fase de formação em empreendedorismo e pitch, 89 participaram na fase de diagnóstico e, a partir daí, 45 estão finalmente a receber financiamento. Nivaldina Neves Cá é monitora do projecto e acompanha 12 destes 45 beneficiários finais. “Há várias ideias de negócio: desde a venda de roupa à plantação de árvores para venda, passando pela criação de um jardim-de-infância. Há também papelarias, peixarias e restaurantes, como o da Sarita”.
O projecto LIFE contribui para a melhoria das condições de vida de pessoas como Sarita e para a dinamização e diversificañçao dos ecossistemas socioeconómicos das regiões onde opera, contribuindo assim para o crescimento sustentável a longo prazo da Guiné-Bissau.
Artigo de Elena Touriño lorenzo